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domingo, 2 de dezembro de 2012

Da vanguarda no ensaio sobre a cegueira

A vanguarda quer dirigir e para tal convence-se que forma quadros.

À vanguarda cabe ao menos a ilusão de que o todo é composto de uma inteligível realidade facilmente reduzida a um modelo explicativo imutável e à ela também cabe a direção de um povo. 

Povo é uma categoria cuja explicação precisa do que é demanda tempo para que o amontoado de simplificações seja compreensível como uma tese. Povo é uma espécie de amálgama do outro simbolizado por um espantalho simplório que por sua vez pouco reflete algo além do nada.

À vanguarda cabe os líderes que por sua vez tem em si o carisma e a capacidade também imutável da infalibilidade e da antevisão quase profética do todo; O todo é aquele mesmo real que tem de ser inteligível e simplificado em sua também imutabilidade para uma explicação que coordene-se como uma tese clara e uma ação convincente.

O líder e a vanguarda não mudam, não erram, não cegam, agem com correção, mesmo que sua ação traga o DEM para uma aliança em um estado longínquo ou uma liderança condenada por todo um imenso grupo da sociedade que apoia o partido ao qual pertence esta vanguarda ganhe o espaço deste partido para defender-se de acusações que, pasmem, são feitas pelo partido que cede o espaço.

O líder e a vanguarda sabem o que fazem, mesmo quando apresentam em um programa eleitoral o ministro da educação que seu partido combateu por meses em uma das mais longas greves do funcionalismo público da educação federal. 

O estatuto da pureza revolucionária da vanguarda dá às suas lideranças o estatuto da pureza atávica, mesmo que assassinem programas, rasguem resoluções, estuprem movimentos. O estatuto da pureza revolucionária marca-se pela necessidade de criação de "musculatura" partidária, e pelo jeito esta deve se construir mesmo que usando anabolizantes.

Com as lideranças ungidas da pureza atávica que merecem mais que votos de confiança, mas verdadeiros cheques em branco que saem de contas mais amplas do que a composição da vanguarda dá conta, a vanguarda torna-se um bloco sensacional de explicação do todo como uma espécie de mantra metafísico que embute mais que filosofia política, mas verdadeiras revelações do real como uma espécie de shangri-lá, um mundo novo cujas leis da física podem ser alteradas pelo verbo.

À Vanguarda sabe a revolução, mas esta deve seguir as leis imutáveis do mecanicismo historicizante, nada de mudanças de paradigmas explicativos e percepção de que o planeta não gira seu tempo de forma linear e que a licença poética da repetição como farsa não cabe como explicação em um mundo que deve pensar para além do manual.

À Vanguarda cabe o papel principal do filme da política cotidiana, pena que este se assemelhe ao "Ensaio sobre a cegueira".

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Comissão da Verdade: Um dever de Estado.

Como historiador é dever profissional defender a abertura de todo e qualquer arquivo público para consulta e análise, como cidadão é dever cívico defender a abertura de todo arquivo público para que a sociedade seja transparente e não tenha sobre si nenhum tipo de névoa de ocultações que inibem esclarecimentos e reforçam sombras que ocultam muito mais do aparenta sobre muito mais gente do que se pensa.

Como humanista é dever de existência defender que qualquer criem seja revelado para, no mínimo, ser apresentada a conta social dos atos políticos  levados a cabo no passado sob quaisquer títulos. Como socialista é dever político assumir a luta pela revelação de tudo o que se fez no passado sob o nome de "salvação da pátria" e cujo ônus criminal só quem pagou foi a massa torturada, processada e presa que defendia apenas um lado das ideologias em conflito.

No âmbito pessoal que oculta seu passado é tido nas ruas da mui leal Ciudad de San Sebastian do Rio de Janeiro como traíra, quem esconde o passado deve, diz-se. O argumento de que a abertura dos arquivos mostrarão também crimes da esquerda sói esquece coma  cara de pau mentirosa de costume que a esquerda foi punida, torturada, presa e aniquilada soba s botas militares que foram anistiados de crimes pelos quais  sequer tiveram a coragem de responder e se defenderem. O argumento dos arquivos incriminarem a esquerda se esquecem de forma leviana de que esta foi punida, por vezes com a vida.

O argumento da "pacificação" via anistia é mais falso ainda, pois parece não ver diariamente repetidas manifestações de louvor a períodos ditatoriais e mesmo à tortura como meio legítimo de embate polítoco e o resultado nas delegacias e aparatos policiais da manutenção da tortura como técnica de interrogatório. A tal pacificação lembra a das UPPs, só quem fica em paz é quem sempre esteve no alto do púlpito da opressão, quem a sofre jamais vive em paz, nem consigo mesmo nem com o prestar de contas amplo com o passado.


Nenhum governo, nenhuma estabilidade política pode se sobrepor à necessidade de libertação civil, humanista, política, histórica de um povo que presta contas com seu passado. Não construir uma comissão da verdade no Brasil, seguindo exemplos que vão de países latino americanos que passaram por ditaduras à França e Alemanha pós segunda guerra, é manter a sombra hipócrita e covarde  da mentira sob o passado do país, mantendo tensões e inverdades que mancham toda a sociedade civil e militar que passou pelos anos de chumbo e inclui no mesmo saco de gatos apoiadores e criminosos, além de criminalizar resistentes.

É preciso ir além do pequeno jogo político que mantém uma falsa estabilidade e ter a coragem de cumprir o dever de estado de revelar o passado do país, ao menos isso.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Estranho mundo de Bob Socialista

No dia a dia político embates, debates, porradarias e dissenções são mais comuns do que se pensa. O pau quebra de manso e contradições são mais que normais, paradoxos idem.

No mesmo Agosto que desgostou militantes PSOLinos com a filiação de Paulo Pinheiro no Rio de Janeiro (Rimou!), o PT me tira da cartola uma belíssima resolução pedindo regulação da mídia e meio que pressionando o Planalto para que algo se faça. A parada ia ser mais séria, mas no conchavismo nuestro de cada dia acabou em moção. O que se propõe alternativa tomou um baile do que foi dito morto.

Isso não significa que os bolcheviques estejam chegando no PT, talvez signifique mais que o PSOL esteja se tornando um sub-PT sem máquina.Também não é de soltar fuegos em la piazza, no esperanto ítaloportunhol de cada dia, mas de recolocar na mesa o debate sobre o que é alternativa para a esquerda dentro de um quadro de burocratização galopante dos aparatos partidários.

Um post recente de Emir Sader em seu blog há uma conclamação ao PT de ocupação de um espaço à esquerda, mas o tom é de uma ocupação pela via da institucionalidade. Da mesma forma o tom dos artigos e discursos das figuras públicas do PSOL são no máximo e com esforço na mesma linha.  A média das colocações dos principais partidos da esquerda são de louvor à institucionalidade. E com o perdão antecipado que pelo aos companheiros de PSTU e PCB, por mais combativas que sejam suas ações e colocações não se colocam como alternativa real para uma ação para além da burocracia, embora em ambos esteja a benéfica crítica da opção pela institucionalidade.

Nessa ladainha a cada dia temos mais um reforço da posição da extrema direita na cabeça do povo, levando a um fenômeno da discussão com muros, ou seja, na ausência de debates, opção pela irreflexão e escolha prioritária do momento e da ação minimalista como saída, pela esquerda ou direita.

Com a  distancia cada vez maior da população, das bases e opção pela ocupação da instituição, com também interrupção da democracia interna evitando abalos em poderes constituídos intrapartidários, a esquerda se torna cada vez mais parecida com o que combate. 

Além disso a opção de quem já ocupa a institucionalidade pelo viés mais simplista de manter a relação com a população e suas bases acaba se tornando uma repetição do que já existe, com distanciamento do partido e estado da população, sem a ampliação e real empoderamento da população na determinação dos destinos do estado e partido.

Em suma, os partidos de esquerda optam pela distancia das bases e povo na determinação dos destinos de partidos e país, em um paradoxo imenso para quem se propõe defensores dos direitos do povo e da conquista de emancipação por ele. Parece que a rapaziada quer libertar o povo de um monte de coisa, mas mantendo um cabresto controlado por ela.

A opção pela instituição já torna o PT algo que pode ser tudo, menos de esquerda. O PSOL com sua política de fortalecimento eleitoral a qualquer custo caminha para o mesmo tipo de partido: Partido de esquerda burguês com o máximo de proposta de ampliação do horizonte democrático e reformas do estado burguês sem nenhuma forte ampliação do papel da população no controle deste, muito menos na derrubada do sistema.

Os demais partidos de esquerda, por mais que no discurso defendam realmente a revolução e o socialismo e a ampliação do poder da população, mantém uma relação de distancia e de burocratização sectária, com ausência de real relação de horizontalidade com a dita "massa".



Enquanto isso fora desse estranho mundo de Bob da esquerda, a relação da direita com a população se mantém firme e forte, pois sem precisar enfrentar o arcabouço de preconceitos viventes na tradição ou discutir a quebra do paradigma senhor/escravo e "Cada macaco no seu galho", nada de braçada na proximidade e intimidade que possuem com estes valores e quebram qualquer busca de alternativa de mudanças na cabecinha da patuléia.

 Aliado a isso a opção de parte da esquerda, especialmente a petista, de manter o diálogo com o povo menos na busca de alternativa e mais na busca de acomodação faz com que estas forças de "esquerda" acabem por participar dessa relação, serem parte dela e, pasmem, acreditarem nela.

E enquanto as alternativas escaceiam, nos movimentos e organizações não partidárias o discurso de reflexão é interrompido ou pelo obreirismo sectário ou pelo anti-intelectualismo. Discutir o uso de palavras é considerado "intelectualismo". Da mesma forma radicalismo é berrar, e Pensamento intelectual é repetir ad infinitum um bando de papagaios de pós-modernistas.

A crise que desponta no horizonte traz mais que pesadas nuvens pro dia a dia econômico, traz também pesadas nuvens pro horizonte político onde o ganho de força da direita e extrema-direita é cada vez maior, com o dia a dia repetindo o preconceito, o ódio, a hierarquização social ao máximo, inclusive entre gêneros e raças. 




Enquanto "Analistas" confundem crise entre Tucanos e DEM com crise da direita, ignorando a crise enorme que a esquerda passa, as forças reacionárias nadam de braçada na consciência viva da população. 

A Classe média se bobear é hoje mais conservadora que nos anos 1950 e a dita "Nova Classe Média" acaba por assumir os valores da antiga com louvor, repetindo não a postura política que em principio a elevou de patamar, mas a postura que havia antes de ódio de classe de uma classe média que acha bacana ser homofóbico.


A crise que desponta no horizonte pode ser mais que econômica e colocar mais água na fervura da perda de espaço para ideais de esquerda, e não importa se o governo Petista enfrentará com show de bola ou não, resta saber se enfrentará para além do econômico e como as demais forças dialogarão com este enfrentamento.


Os debates, dissenções, quebra-paus internos da esquerda passam ao largo de toda a problemática relação de perda de hegemonia de seus ideais na sociedade.

 Ou confundindo vitória na eleição com conquista de hegemonia ou optando pelo fortalecimento eleitoral como caminho para esta disputa, a esquerda ignora as mensagens recebidas tanto de aumento do pensamento reacionário como da crítica aos métodos tradicionais que usam os partidos numa critica interessante da forma partido em uso como acabada e patinam num mundo onde Partidos "Necessários" se tornam a cada dia mais semelhantes aos partidos de "Esquerda".

Nesse estranho mundo de Bob as alternativas parecem nítidas, mas no mundo real a ausência delas ampliam o espaço de chegada do mais puro fascismo.




terça-feira, 12 de julho de 2011

Em busca da unidade perdida

Existe um saudosismo da unidade que percorre a esquerda, especialmente a socialista, que entende unidade como algo perdido em uma Xangri-Lá ideológica um tipo de El Dorado das idéias e organizações que não encontra eco na história.

A cada momento onde organizações racham ou se dividem, ou mesmo organizações paralelas com divergências se constituem, os arautos do caos da esquerda lançam os adágios quase atávicos: "A esquerda só se une na cadeia!" e "A unidade está sendo rompida!" . E nestas afirmações está embutida a idéia da necessidade de ocupação do mesmo espaço organizativo para que exista unidade, como se divergências fossem bestagem de egos inflamados e não por vezes elementos de fundamental importância que impede que companheiros sob o ponto de vista ideológico convivam em um mesma organização ou movimento.

Esse tipo de visão é parecido com o saudosismo do partido único, referencia quase que universal em grande parte da história da esquerda de uma unidade quase totalizante e cujos discordantes do Partido Único seriam traidores ou quinta-colunas. É muito comum que os defensores da unidade perdida sejam membros atuantes dos partidos comunistas e tenham certa simpatia por bigodes e coturnos, desde que vermelhos.

A grande questão é que com isso se esquecem da nossa velha amiga história na descrição de grandes momentos onde a atuação da esquerda foi tudo, menos filha da unidade formal, embora diretamente ligada à unidade de ação a meu ver a que importa. 

A Revolução Russa é em geral descrita como Revolução Bolchevique, mas isso oculta a participação de imensa importância dos  Socialistas Revolucionários, Anarquistas, Soldado e Camponeses que por vezes não eram alinhados aos Bolcheviques, derrotados várias vezes nos Sovietes. A unidade entre Bolcheviques (que faziam parte do Partido Social Democrata Russo junto com os Mencheviques, ou seja, eram um racha) e os demais participantes ativos da Revolução como os Socialistas Revolucionários e Anarquistas não era a propalada "unidade" organizativa, mas era a de ação, pois todos participaram ativamente da revolução e tomaram o poder. 

Ou seja, na primeira grande Revolução a unidade nunca foi a organizativa, mas de ação, a unidade que interessa.  A "obrigatoriedade" de uma unidade no mesmo espaço físico é de conteúdo autoritário e trava na organização de muitas frentes de atuação que abriguem lutadores em sua diversidade, não restringindo a ação a um único modo, método ou mesmo linha politica.

Porque um oposicionista do Governo Lula-Dilma seria representado e se sentiria parte de movimentos nitidamente ligados à defesa deste governo como a "úncia alternativa viável"? E ele não se vendo parte disso se torna menos lutadora? É essa a unidade que queremos, que coloca como sub lutador alguém que discorda da orientação de sue apoio e de sua percepção politica? E os anarquistas? Como faz? manda às favas e trata como sub-raça ideológica? E os apartidários, os artistas, os diletantes gente boa que não se vêem presos a um tipo de rigidez organizativa que torna tudo um imenso Fla x Flu? O que fazemos com eles em nome da unidade idílica? Ignoramos?

A questão da unidade nas ruas e nas lutas permite que ativistas e militantes ligados ou simpatizantes do PT se juntem a membros do PSTU, a Anarquistas, à autonomistas à membros do PSOL na luta contra as remoções no Rio de Janeiro e atuem de forma unitária no Comitê Popular da Copa e da Olimpíada. Estes membros não se sentiriam à vontade em uma mesma organização se ela fosse pró-governo. A sabedoria dos companheiros tornou o espaço um espaço de lutadores e todos contribuem para o sucesso do movimento. Em outros movimentos isso por vezes não ocorre e se torna mais fácil organizações diferentes que mantenham a ação convergente nas lutas, mas que a divergência seja representada e organizada de acordo com as demandas de cada linha de pensamento e  postura política. A legitimidade de movimentos assumidamente pró-governos é tão grande quanto aos que não são alinhados diretamente e que contemplem desde a oposição até apoiadores mais críticos do mesmo governo. Não podemos te ruma leitura política maniqueísta ou idílica que retira legitimidade de uma ou outra posição, da mesma forma a luta politica propõe atritos e alinhamentos dependendo de cada movimento da conjuntura e isso é normal e até certo ponto desejável, dado que a ausência da divergências dá um tom de paz de cemitérios no cotidiano das lutas.E nenhum cemitério é revolucionário.

Portanto a multiplicidade da esquerda precisa da divergência e da variedade para que seja viva e atue na luta diária de forma a superar o capital e transformar a realidade, essa variedade pode e deve se unir no que interessa: Nas ações de luta, nas luta diárias e não em um mesmo espaço organizativo. A busca pela hegemonia politica é parte da normalidade e do espírito de uma linha ideológica que só em Marx tem divergências entre várias corrente se por vezes divergências fundamentais, imagina se incluirmos anarquistas, autonomistas e outras correntes. 

A busca da unidade deve ser cotidiana, no levantamento das bandeiras comuns e devem ser respeitadas a divergências que impede a ocupação de espaços comuns de organização. O Saudosismo da Xangri-lá do partido único é apenas uma visão da unidade engessada.A unidade que vale, a das ruas, não cabe nos limites de partidos, casas ou camisas de força ideológicas. Como as ruas a unidade é dinâmica, múltipla e viva. Casas só a  prendem.