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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2013

Eu queria ser um tipo de compositor capaz de tecer um amor, qualquer amor, daqueles que a vida continua, indiferente.

Amar talvez seja atuar politicamente cotidianamente e falhar miseravelmente. Sim, falhar miseravelmente, porque é das falhas o construto humano.

Não sou um otimista, nunca fui, talvez me pretenda sobrevivente e mesmo assim falho miseravelmente tendo em vista uma vida muito superior economicamente e socialmente às da média.

Não sou um pessimista, tampouco um cínico, sou só assim um apaixonado por muitos, por mim, pelo meu cão, meu cigarro de festas, minha cerveja gelada, minha companheira que escreve tão bem, milita tão bem e é imensa e biscateia maravilhosamente.

Faço muito pouco por um mundo que cuida muito bem de mim, sou um sujeito de sorte. O que faço, faço publicamente e costumo ter orgulho disso, embora falseei uma humildade que acaba aqui.

Eu queria ser um tipo de compositor capaz de escrever oque muda mundos e transforma realidades, mas só sou um ecossocialista enrolado, um historiador metido e um apaixonado por um porvir duro que se apresenta sempre ali, na dinâmica do estar vivo.

E por isso desejo que em 2013 menos sem terra morram, menos índios, menos homossexuais, menos mulheres sofram das violências cotidianas de nossa cultura ocidental, cristã, capitalista genocida.

Por isso desejo em 2013 um mundo mais quilombola, mais preto, mais "Perigoso", vestido coma  cor e a alma das classes perigosas.

Pra este 2013 invoco as forças da natureza na voz de Clara nunes, recém injustiçada como "apoiadora da ditadura" para que todos nós, lutadores, sejamos mais ecossocialistas.


domingo, 2 de dezembro de 2012

Da vanguarda no ensaio sobre a cegueira

A vanguarda quer dirigir e para tal convence-se que forma quadros.

À vanguarda cabe ao menos a ilusão de que o todo é composto de uma inteligível realidade facilmente reduzida a um modelo explicativo imutável e à ela também cabe a direção de um povo. 

Povo é uma categoria cuja explicação precisa do que é demanda tempo para que o amontoado de simplificações seja compreensível como uma tese. Povo é uma espécie de amálgama do outro simbolizado por um espantalho simplório que por sua vez pouco reflete algo além do nada.

À vanguarda cabe os líderes que por sua vez tem em si o carisma e a capacidade também imutável da infalibilidade e da antevisão quase profética do todo; O todo é aquele mesmo real que tem de ser inteligível e simplificado em sua também imutabilidade para uma explicação que coordene-se como uma tese clara e uma ação convincente.

O líder e a vanguarda não mudam, não erram, não cegam, agem com correção, mesmo que sua ação traga o DEM para uma aliança em um estado longínquo ou uma liderança condenada por todo um imenso grupo da sociedade que apoia o partido ao qual pertence esta vanguarda ganhe o espaço deste partido para defender-se de acusações que, pasmem, são feitas pelo partido que cede o espaço.

O líder e a vanguarda sabem o que fazem, mesmo quando apresentam em um programa eleitoral o ministro da educação que seu partido combateu por meses em uma das mais longas greves do funcionalismo público da educação federal. 

O estatuto da pureza revolucionária da vanguarda dá às suas lideranças o estatuto da pureza atávica, mesmo que assassinem programas, rasguem resoluções, estuprem movimentos. O estatuto da pureza revolucionária marca-se pela necessidade de criação de "musculatura" partidária, e pelo jeito esta deve se construir mesmo que usando anabolizantes.

Com as lideranças ungidas da pureza atávica que merecem mais que votos de confiança, mas verdadeiros cheques em branco que saem de contas mais amplas do que a composição da vanguarda dá conta, a vanguarda torna-se um bloco sensacional de explicação do todo como uma espécie de mantra metafísico que embute mais que filosofia política, mas verdadeiras revelações do real como uma espécie de shangri-lá, um mundo novo cujas leis da física podem ser alteradas pelo verbo.

À Vanguarda sabe a revolução, mas esta deve seguir as leis imutáveis do mecanicismo historicizante, nada de mudanças de paradigmas explicativos e percepção de que o planeta não gira seu tempo de forma linear e que a licença poética da repetição como farsa não cabe como explicação em um mundo que deve pensar para além do manual.

À Vanguarda cabe o papel principal do filme da política cotidiana, pena que este se assemelhe ao "Ensaio sobre a cegueira".

sábado, 1 de dezembro de 2012

Militância, academia, teoria e prática.


Qual o papel da história na militância? Qual o papel da academia? Essa pergunta sempre rondou a cabeça do escriba, inicialmente trocando História por Ciências Sociais nos idos dos anos 90 quando a pergunta rondava a respeito destas, se eram ou não úteis pra transformação do mundo, para a revolução. 

Hoje a pergunta continua, mesmo que com viés diferente, a respeito da História.

A resposta é a mesma de anos atrás: Muita.

As ciências como um todo possuem um aspecto fundamental no processo politico, obedecendo inclusive à determinações relacionadas ao viés do autor, da instituição para a qual produz, ao tipo de trabalho,etc. A História, assim como as Ciências Sociais, não está imune a isto e pode pender
à esquerda e à direita de acordo com a vontade, a situação de classe, à cultura construída e transformada do indivíduo em sua trajetória de vida.

A questão é que o papel das ciências e em especial onde atuo, na História, não é um papel exatamente direto, no sentido de sua produção servir diretamente ao papel revolucionário. O resultado pode sim servir ao ator revolucionário, mas o ato da produção deve antes servir à revelação do que esta oculto nos vestígios do passado recolhidos pelo historiador em sua trajetória.

Não se está pregando uma neutralidade, dado inclusive que a escolha do objeto de estudo já obedece a critérios ideológicos claros ou não para o autor, mas se colocando que a produção não pode ser levada a cabo com o objetivo de provar algo que não está colocado pela fonte, pelo fato, pelo objeto, embora seu resultado seja objetivamente um fator importante de desvendamento do concreto, o que em última análise permite ao ator político, o revolucionário, construir uma trajetória tática a partir do desvendado.

A questão é esta: O ator revolucionário, o militante, obedece a questões e a um papel que o Historiador deve evitar quando da produção da análise sobre o objeto. A ação da ciência, embora jamais neutra, deve-se ater ao critério e ao mais alto rigor científico, que pode por vezes contrariar a percepção imediata militante que movida a questões subjetivas relacionadas a objetivos políticos tende a distanciar-se do rigor exigido pelo mundo acadêmico.

Ambos observando o mesmo objeto tendem a perceber variações diferentes. Ao militante é permitido que tire conclusões não definidas pelo objeto de estudo, ao historiador não. Uma mesma pessoa em momentos diferentes pode executar os dois papéis.

O Historiador que observa a vida dos homens e mulheres negros residentes na cidade do Rio de Janeiro no fim do século XIX, entre o fim da escravidão e os anos posteriores à abolição deve buscar analisar com extremo rigor a vida destas pessoas através da análise documental, assim talvez entenda melhor seu cotidiano e a influencia de sua vida e da cultura ali criada nas gerações posteriores.

Ao Historiador não é permitido afirmar peremptoriamente que a vida destes negros é fundadora da cultura cotidiana do carioca, já ao militante esta dedução não é negada e nem o entendimento de uma base negra na cultura do carioca de origem popular, a ele não é exigido uma prova ampla de sua afirmação.

Não que seja permitida ao militante a desonestidade intelectual e factual, mas a ele são permitidas licenças políticas que o eximem de uma prova ampla, rígida, cientificamente embasada que são exigência profissional do cientista.

O cientista que também é militante tem de entender que suas impressões não rigorosamente científicas não devem passear pelo perigoso terreno da academia, e nem ao inverso suas impressões políticas devem ter a liberdade tão ampla que contradiga sua produção científica.

Talvez a chave que construa uma explicação realista desta contradição de papéis seja o fato de que ao cientista o elemento “ação” não seja exigido e que talvez por este motivo o militante, levado à ação por vezes com as construções teóricas “à mão”, disponíveis, não possa aguardar a definição científica, que exige naturalmente uma demora maior.

O problema de um é a necessidade de um rigor que atrasa por vezes o movimento e a ação, e o de outro é o possível e provável açodamento, que por vezes produz rachas, erros enormes, e rompimentos inegáveis.

Talvez sem a academia a construção de uma ação militante completa seja impossível e talvez sem a militância caiba ao acadêmico a estagnação, inerte na ausência da percepção do ver científico como também alimento da ação militante, dado que ao revelar o real produz o desenho do caminho que a ação política precisa para transformar este mesmo real.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Qualquer coisa de intermédio

A identidade do indivíduo não é algo exatamente simples de identificar, quanto mais a de um grupo ou de uma sociedade.

A miríade de formas identitárias que influenciam a construção das identidades não permite que se entenda de forma simplória o que é uma pessoa,um grupo, um coletivo,uma sociedade

O existir como homem, mulher, trans*, negro, branco, indígena, morador de Madureira, Ipanema, Porto Alegre, Pelotas, não obedece a uma simples determinação geográfica, étnica, de gênero, transgênero ou de cerne biológico.

Identidades individuais ou coletivas não nascem apenas de motivações isoladas, são um conjunto de inter influências que são também traduzidas politicamente e também se organizam e traduzem na relação com o outro, na chamada alteridade.

Identidades são construídas sim, mas antes de serem construídas no laboratório das boas intenções são interações construídas coletivamente, socialmente, historicamente e se alteram para além do controle bem intencionado da intelectualidade menos atenta a limites que permeiam nossa cultura de análise da realidade.

Universalizar conceitos pode ser mais arriscado que pular sem paraquedas do alto do Everest, ainda mais se o lastro concreto não tem uma base maior do que um palpite bem intencionado.

A identidade da população negra  como Povo Negro, por exemplo, é uma modernidade  construída no decorrer dos anos  do século XX em especial e lutou, se bobear ainda luta, contra a carga pejorativa desta categoria enquanto termo aplicado à escravos e redutor da diversidade que existia para além do fenótipo.

A categoria Negro reduzia toda a população de pele negra a membros de uma só identidade, estuprando a diferenciação entre Minas, Iorubás, Gêge, Daomé, Sudaneses, Criolos (negros nascidos no Brasil),etc.  A categoria Negro no século XIX também reduzia livres e escravos a uma mesma população, ignorando suas diferenças.

Salvo engano esta carga negativa ainda persiste e ainda divide opiniões entre a população negra mesmo após todo o trabalho militante que buscou agrupar todas as lutas dos afro-brasileiros via Movimento Negro Unificado. E mesmo após todos estes anos ainda existem lutadores que buscam a construção de outra identidade das lutas anti-racistas sob a categoria povo Preto.

Essa identidade negra ou preta  é um exemplo de como categorias construídas socialmente, com base em um misto de ação intelectual e militante, da base popular e da base intelectual, não tem nem elas mesmas uma unanimidade na construção de si mesmas como termo síntese das lutas de uma determinada população. 

E nem considerei a população não militante que não utiliza este tipo de categoria explicativa como definidora de identidade e utiliza as diversas outras categorias sociais que são utilizadas para definir a população afro-brasileira, como negão,  crioulo, pretinho, neguinho, pessoa de cor,etc, e não as tem como pejorativa como a população militante. Também não considerei quem não entende essa luta como válida, nem tampouco vê a si mesmo como alvo da discriminação e/ou opressão.Tampouco considerei questões culturais, que variam demais pra fora do confortável eurocentrismo de parte das ciências, inclusive as humanas.

Ou seja, a lógica da formação de identidades, especialmente sob o ponto de vista político, não é 
bolinho.

Podemos usar também a lógica de categorização do real a partir do feminismo também e vamos dançar em cima de categorias que incluem ou não a luta de classes,o viés racial,etc, e esta dança vai conter contradições, diversidades e como movimentos organizados têm imensa complexidade na construção de suas própria identidades, mesmo com lastro social, histórico, mesmo com amplo apoio coletivo, numérico até, e mesmo assim com tudo isso não conseguem nessa complexidade inibir o fato de apesar de parte da identidade tornar-se hegemônica ela não é unanime.


A ideia de construção da identidade coletivamente não é exatamente uma forma de imposição ou artificialização da identidade, ela é feita a partir de decisões coletivas que se organizam na luta concreta e pelas oposições e relações com a alteridade, inclusive com opositores, se consolida como identidade hegemônica.

Ninguém define uma população como Negra, por exemplo,  e sai assoviando.


A lógica vanguardista  de adotar soluções de cima pra baixo como elemento de alteração do real é um vício que não anima apenas marxistas-leninistas ferrenhos, ele tem seus efeitos nos mais fiéis fãs de Foucault, que mesmo ignorando a complexa teoria do amado mestre, insistem em construir uma luta que se propõe concreta através de uma visão que entende o real como uma forma de texto que alterando o verbo altera a correlação de forças.

Além dessa visão vanguardista levar a uma ideia de que o mundo pode ser alterado como uma espécie de frase de efeito ou numa crença de que "as palavras tem poder", há também um outro aspecto dela que é a lógica de que as pessoas, populações inteiras até, precisam da luz  da intelectualidade "capacitada".

Essa lógica da tutela pela vanguarda  de populações inteiras é muito presente na ideia de que o povo precisa da vanguarda  para ter "consciência", como se o intelectual fosse um anjo que desce da super estrutura trazendo a semente do pé de feijão pra João, enquanto este intelectual está mais pro sujeito que ri do pobre João quando este vende a vaca para ter uma semente mágica, mesmo depois do pé de feijão o levar a um reino onde o pobre João conquista sua riqueza.

À ideia da formação política se acrescenta um pouco assumido senso de que o outro não raciocina ou que lutas precisam de nós para terem visibilidade e que para isso é necessário mais do que discutir possíveis transformações de percepção do real, mas impor uma percepção do real de cima pra baixo, considerando esta imposição uma lógica quase que zapatista de libertação.

Se parte da construção artificial da identidade ou do que é o outro para depois impor esta percepção ignorando as reações da alteridade, consideradas como anátemas por desafiar algo tão legitimamente endossado no mar das boas intenções.

É a partir daí que a lógica do intelectual na torre de marfim se constrói com toda força e vapor. Porque a percepção da vanguarda de que o real é o que ela pensa ser fica mais forte do que a identificação de demandas concretas, inclusive sob o ponto de vista cognitivo e que tenham eco inclusive entre a população que se pretende atingir.

Na sanha de construir um novo mundo se busca construir um novo outro, só que ignorando que este outro já existe, em um mundo que já existe.

Se parte para uma idealização hegeliana, uma construção quase que platônica de uma realidade paralela, um mundo hermeticamente fechado, travado na ideia de sua sensacional clareza de percepção do real e voraz classificador de qualquer reação concreta como anátema, como inimiga, mesmo se esta for construída por dúvidas pertinentes, racionais, científicas até, politicas até, no campo próximo ideológico.

Na sanha de ser o outro pelo outro se esquecem do alto da vanguarda  a mediação entre identidades, a ideia do intermédio, do pilar da ponte de tédio que vai de si mesmo ao outro (Obrigado Mário de Sá Carneiro). 

Ao esquecer que na relação de alteridade não se é nem a si mesmo, tampouco o outro, e se é um misto social de construção de identidades e ações, a vanguarda  trai a si mesma na sanha da transformação global e acaba sendo um pastiche de transformação chamado gueto.

Isso vale na luta operária, na luta LGBT, na luta Feminista, em qualquer luta.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

De perto, ninguém é normal

Uma velha discussão política no Brasil é a da nossa singularidade. Ela aparece em vários espectros da ideologia, seja no aspecto de esquerda onde se coloca que "temos nossa maneira de lidar com alianças e com o estado" seja pela direita que a usa para colocar que a política aqui deve ser mais dura com manifestações para tentar "educar nosso povo para a civilização política".

Em ambos os casos existem outros exemplos claros. Temos a defesa por parte da esquerda que "A população latino-americana entende um governante forte e carismático como fundamental e por isso as relações clássicas 'republicanas' talvez não se apliquem por aqui" e pela direita de que "O Brasil tem um atraso fundamental civilizatório e precisa de um 'choque' de xxxxxx" onde está o xxx preencha com "capitalismo", "ordem", "civilização" ou outro termo que se lembrem.

A singularidade Brasileira em ambos os casos, ou para destacar diferenças qualitativas e/ou de excepcionalidade ou  para desqualificar métodos democráticos de relação entre classes e de disputa de poder ou mesmo ainda desqualificar a luta do povo como "desordem", serve para adequar ações políticas de forças x ou y à uma realidade que só existe aqui e que por isso torna necessárias medidas de exceção, sejam elas morais,  de política de alianças ou de força.

A questão básica é que a defesa da singularidade parte de uma premissa óbvia para a sustentação de  falácias.

É óbvio que o Brasil é singular! Como o é a Argentina, o Peru, o Japão, o Chipre, os Estados Unidos, Pernambuco, Amazônia, Pelotas ou Madureira, assim como toda a unidade geográfico-populacional existente nesse mundo de meu deus e que se organizam socialmente em um espaço e com uma determinada ação política que mistura a organização institucional, questões culturais, tradições, língua,etc.

Essas singularidades no entanto não estão isoladas de questões que se consagraram com os modelos de estado ditos "burguesas" que se tornaram hegemônicos no planetinha especialmente a partir do imperialismo punk rock do fim do século XIX onde o capitalismo se espalhou fortemente no planeta se tornando hegemônico e derrubando formas de organização políticas diferentes das Europeias e tornando o modelo de estado baseado em três poderes e constituição quase que presente em todo o mundo.

Na América por exemplo, isso é muito, mas muito anterior, sendo por baixo um modelo que já é estabelecido no início do Século XIX quando dos movimentos de independência, sendo porém possível falar que a lógica de estado europeia já é presente desde antes, dado que a América era colonia de estados europeus e reproduziam em menor escala estes estados aqui.

Tradições foram inventadas e reinventadas, desde a autoritária caudilhesca centralizadora até a republicana, que se organizaram em torno das singularidades e construíram repostas próprias diante dos modelos de estado e se construíram entre oposições e situações com sua relação entre singularidades espaciais e culturais e o estado que foi se organizando entre essas pressões até hoje.

Se temos a singularidade de buscar líderes autoritários e centralizadores carismáticos, ele é tão singular quanto o sebastianismo luso, a forte presença fascista e carismática italiana ou o franquismo espanhol.

Há algo tão caudilhesco quanto o culto ao presidente dos EUA e a tradição de eleição para este cargo de membros da elite estadunidense, seja ela rural ou não, com raras exceções? Há algo tão republicano quanto a política chilena na maior parte de sua história? A construção de partidos comunistas no Brasil e Argentina e relações tão similares em sua repressão como a que ocorreu nos EUA e na Europa às forças socialistas não são exemplo de nossa tradição comum republicana?

A própria construção histórica das lutas da classe trabalhadores de imensa semelhança com as lutas ocorridas na Europa e EUA é uma singularidade? Ou talvez a singularidade seja menos exceções relacionadas a uma "impossibilidade" de construção de ações políticas que sejam pautadas em uma tradição democrática, de esquerda, republicana e ideológica e mais nossa forma particular, como a  de todos, de lidar com nossas tradições e contradições, línguas, carinhos, amores e debates, ou seja, nossa cultura dentro da tradição republicana?

A busca de nossa singularidade não pode ter em mente que nossa singularidade traz naturalizações políticas ou morais ou nos torne portadores únicos dela, enquanto cada cultura é singular diante das outras e isso também serve para a política.

É preciso sim saber a singularidade de cada local, de nosso país, língua e povo, sem no entanto esquecer que construímos um estado a partir delas, com elas e que este estado é também palco de disputas, de questões ideológicas e que é sim um estado que se encaixa em um modelo de estado burguês que não é nada singular e cujas relações internas e externas a ele se tratam também em tradições importadas e mantidas no cotidiano político transformadas sim pelas nossas singularidades, sem no entanto terem sido apagadas.

Não temos os políticos mais ladrões e nem o estado mais perdulário, não somos os singulares ineptos para a prática democrática e nem os únicos a terem parte da população amante de líderes carismáticos de esquerda ou direita, não somos os únicos que compramos ou vendemos votos e nem tampouco os poucos e parcos enfrentadores de crime organizado enfiado em política ou que possuímos escândalos de corrupção e nem precisamos mais ou menos de ditadores de esquerda ou direita para resolver todos os nossos problemas.

Uma pesquisa básica na história dos países do mundo, e eu fiz recentemente uma boa leitura da história dos EUA, aliada ao acompanhamento das notícias internacionais nos dão uma dimensão de imensa solidariedade nossa com problemas e dilemas da maioria dos países do mundo, ao menos os ocidentais. E ai nossa singularidade cai, para o drama dos ufanistas do mal e do bem e para o alívio de quem não se acha tão marciano assim.

É preciso entender que nossas particularidades e singularidades não nos mudam de planeta e que a defesa delas para além do razoável também serve a ideologias, a interesses políticos imediatos, a lógicas partidárias que no fundo são só a velha e boa puxada de brasa para sua sardinha.

É preciso estar atento a isso para não incorrermos em uma lógica atávica de nossa inadequação para a democracia, para as transformações. É preciso entendermos que nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.

Até porque de perto, ninguém é normal.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O Tempo da Política

A política no brasil, é notório, é definida popularmente como detentora de um tempo próprio, de um período onde é dado a ela o papel fundamental na vida das pessoas e onde a discussão política ganha um espaço privilegiado. 

Este tempo é, óbvio, o tempo das eleições, onde inclusive há a lenda do aparecimento, do avistamento, dos políticos, que são entidades disciplinadas pela periodicidade de quatro anos e pela oferenda da representatividade de do prestígio local no "fazer", também conhecido como "construir".

Os políticos são também tidos como entidades limiares, ou seja, cuja ética e moral não obedece ao padrão coletivo ou "superior" e cuja manifestação tem uma cara e um cheiro específico que relembra o lado negro da força.

Ironias à parte, essa visão é tanto uma construção de uma tradição baseada na experiencia cotidiana, empírica, pela população como resultado da redução da política ao voto e à participação nas eleições como atores, cabos eleitorais, elementos de prestigio nas comunidades pelas relações com quem "traz benefícios" para a comunidade,etc. Essa redução é uma carona que parte do aparato midiático pega na tradição da política anti-democrática tradicional no Brasil (diria que no mundo) para reduzir a participação popular ao ato de votar e inibir ações concretas de transformação via ativismo.

A ação que transforma a política em ação restrita dos políticos e afastada do cotidiano da ação popular direta é também vista na noticia das greves como privilégios, das manifestações como atrapalhadores do trânsito, de reajustes salariais como "Bônus" e não como direitos e que comparam salários como se um trabalhador melhor remunerado fosse  um "marajá nomeado" e não um trabalhador que vende sua força de trabalho em troca de salário como o gari, o guarda, o balconista, todos com direito à greve.

O tempo da política da sabedoria popular é uma análise da sazonalidade da presença do estado via poder legislativo e executivo nas comunidade, mas também é usado como referência da política como algo afastado do cotidiano e com trânsito impossível pro popular, especialmente nas grandes cidades onde a circulação do poder nas ruas é restrita.

Esse afastamento da vinculação de greves, manifestações e ativismo do que é chamado de política e que leva às pessoas  entenderem a política em espaços "de relaxamento" como uma afronta, dado que para muitos existem espaços "alheios e independentes da política", e por isso aparecem nas redes sociais, festas e praças reclamações sobre a presença de manifestantes e militantes como invasores, dado que para a maioria da população o militante não é um defensor de um ideal, mas um cabo eleitoral pago para a propaganda política e ou diretamente interessado pro razões pecuniárias ou de influência na eleição de x ou y, como s1e a política fosse apenas a apropriação do aparato do estado para fins privados.

A visão sobre a apropriação do estado pelas forças políticas em disputa não é nada contrária à realidade cotidiana, inclusive fortalecida pela ação inclusive de forças de esquerda neste aspecto, só que restringe a política à reprodução da privatização do estado pelas forças hegemônicas da política cotidiana que vive em nossa história desde sempre, mantendo a tradição monárquica que sustentou a  formação do estado nacional brasileiro. 

Este estado, formado a partir da lógica de laços sanguíneos como fundadores da tradição política nacional, foi mantida inclusive pelo estado republicano que ampliou o caráter liberal do estado brasileiro redesenhando a correlação de forças interna a ele apenas quanto à redivisão do poder no seio da oligarquia e não ampliando democraticamente o controle do poder para o todo da população. 

Caia o imperador, mas não se alterava significativamente em que mãos se assentava o poder, tampouco se alterava a lógica de tutelação da população e de identidade deste como um mero observador do cenário político. Dá pra perceber que a ideia do povo como protagonista da história ainda permanece como anátema nas colocações deste como um mero bestializado cotidiano, especialmente e infelizmente nos círculos da elite que se pretende esclarecida, lógica de bestialização que ainda considera a população como distante do esclarecimento necessário para a ação política.

A construção desta lógica é feita tanto pelo trabalho cotidiano do aparato ideológico de manutenção da dominação de uma elite por sobre a população e que constrói a história ocultando as lutas cotidianas que levaram pela pressão grevista ou pelas revoltas contra remoções à conquistas de direitos pela população ( como a CLT, a construção de movimentos sociais de resistência às remoções, partidos e sindicatos) quanto pela opção tradicional de formação da memória brasileira que preferiu a personalização da história à crítica que incluísse democraticamente todos os atores da formação do Brasil no cenário da Grande História. 

O resultado desse processo é o Tempo da Politica, ser um tempo institucional, dado externamente ao cotidiano popular e onde se entende o espaço popular de obtenção junto aos políticos  do que não conseguirão ao fim deste tempo.

À Esquerda cabe não só a ação cotidiana e o redefinir da participação política neste período e também à ampliação do circulo de ação política para além da demarcação eleitoral, mas também a redefinição de seu papel "educacional", não como um tutelador de um povo bestializado que precisa de "consciência", mas como um reprodutor do que se entende por História, como um ampliador das discussões que revelam ao povo sua tradição de lutas e que lhe permitirá a construção de sua consciência pela consciência de seu próprio passado. Esta consciência sendo não a "doação de luz", mas um retirar dos véus que a história tradicional usa para ocultar o DNA do povo na formação de um país cujo DNA é mais seu do que da elite que se apresenta como "proprietária" do Brasil, quando no máximo parasita um país formado pela força popular, pela força da cultura popular.

O Tempo da Política é o tradicional período de eleições, mas cabe nele a ampliação que só pode ser feita pelo trabalho cotidiano de quem entende este tempo como o respirar cotidiano, também chamado Vida.




segunda-feira, 2 de julho de 2012

A novidade veio dar à praia

Nos últimos dez anos (ao menos) as mudanças tecnológicas e as novas formas de economia que surgem a partir destas novas tecnologias ganharam adeptos e ideólogos que identificam nas mudanças a ocorrência da superação do sistema.

A novidade como o mote da superação da política "obsoleta" é encontrada tanto nos adventistas da "política sem rancor" como nos entusiastas do compartilhamento de arquivos como método revolucionário.

Ironias à parte sobre os movimentos, o que surpreende neles é menos a arrogância de destituírem a política cotidiana de sua importância, e inclusive de fazer parte do eixo de transformações levadas a cabo pela utilização das novas tecnologias, e mais a reprodução do evolucionismo tão caro à modernidade em seu discurso aparentemente diretamente vinculado à pós-modernidade.

A ideia do partir do slogan e  da análise do real construída por sobre a impressão superficial do concreto é tentadora inclusive pela popularidade de conceitos Drops lançados em discursos afirmativos, "conscientes" e convictos  e pela imagem de transformação que isso dá, baseado que está na fragmentação do concreto e do discurso como forma de facilitação da "comunicação". 

A imagem do Slogan e ele próprio são considerados a própria mensagem, o todo dela, e também da ação política. É como se o "Sempre Coca-Cola" fosse o próprio ato de beber Coca-Cola. Então a política fica reduzida à superfície dela mesma, a aparência da política é para a "nova política" um fim em si.

E é aí que vemos surgir uma longa fila de teóricos que se empenham em construir uma nova economia pós-mais valia, de teóricos "open source" que partem do compartilhamento de arquivos como um ato revolucionário, como se novo também, e tomando a lógica de relacionamento com direitos autorais como um fim em si mesmo e não como uma nova variedade de capitalismo que não só não abole a mais valia como a amplia.

A transformação da política cotidiana como "velha" como se o mundo fosse transformado em um novo modelo de exploração automaticamente a partir do advento da internet é também uma redução do trabalho político cotidiano a um pastiche onde a premissa da "novidade" é superior à premissa da sustentação de uma nova discussão a partir das mudanças do mundo. O mundo precisa de um "novo" que supere o "velho" segundo a nova retórica.

A questão é que primeiro o próprio "velho" é desconsiderado, a maior parte da novilíngua da "novidade" se sustenta em uma percepção que mal esconde o nojo da politica cotidiana, seus problemas e acertos, suas rusgas e disputas, e com isso o ignora como necessidade de entender o objeto da crítica para sustentar essa mesma crítica. Então é mais fácil rotular todos os partidos, um a um, do que discutir seus programas, métodos, discussões, formas de abordar o que incomoda ao sustentador do "novo". 

Notadamente a maioria dos partidários do "novo" iniciam sua argumentação como fim da dicotomia entre direita e esquerda retomando o dito por ideólogos do neo-liberalismo no inicio dos anos 1990 logo após a queda do muro de Berlim e dos países do bloco chamado "socialismo realmente existente".

Do discurso que remonta o "fim da história" de Fukuyama, passamos quase que automaticamente a uma leitura pálida da história dos partidos políticos e a redução destes a um pastiche de seu discurso, praticamente montado em torno de uma colcha de retalhos de críticas mantidas por jornalistas conservadores nos jornais diários misturadas à "Deduções" a respeito de como discutem estes mesmos partidos. O PV por exemplo tem sua história resumida a seu estado recente, o PSOL aparentemente é ainda o discurso de Heloísa Helena e o Socialismo, cumpádi, é uma tolice do século XX. 

O PT e demais partidos, todos eles, são ignorados, de onde se tira que a nova política  entenda que a luta política cotidiana é tolice e que inventando um novo mundo onírico tenhamos sucesso na superação da luta de classes ou seja lá o que interessa a estes superarem.

Ai temos um novo que no fundo é uma requentada no discurso liberal de superação da história somado a um profundo desprezo pela política cotidiana, quase que todo ele sustentado pela percepção desqualificatória da política como "suja" feita pelos jornais liberais. O interessante é que isso aparece em propostas que se pretendem novas, seja a da biopolítica dos partidários da "política sem rancor", seja dos entusiastas do Partido Pirata e seu libertarianismo open source.

A necessidade de "superação" das formas de organização partidárias presentes no discurso acabam por sustentar de forma indireta estas mesmas formas, inclusive pela opção  de participação em partidos já formados (Para a superação do velho "por dentro") ou pela formação de novos partidos totalmente "puros e sem defeitos", feitos pro gente nova e que não está contaminada pela obsoleta forma de ver o mundo (contém ironia). 

Com isso quase que se omite a discussão sobre a própria forma-partido e suas limitações, não se discute a propriedade da forma-partido como catalisadora das lutas modernas e do combate ao "velho" na política, se opta, contraditoriamente, pela formação de novos partidos, sob o ponto de vista da constituição de uma democracia burguesa e quase sempre estruturados para disputar a política sob o escopo da eleição de parlamentares para atuar no estado que ai está. 

Onde está o novo? Onde se aplica um novo se este se forma enquanto mais um peão no tabuleiro político estabelecido pelas revoluções Burguesas dos séculos XVII e XIX? Onde se aplica o novo se nem a confirmação de uma nova estrutura de organização política interna destes partidos  que sejam um reflexo de "novas políticas" é dada nestas novas organizações?

As criticas do "novo" portanto em geral caem em si mesmas como apenas a aparência de criticas. O desconforto que o cotidiano causa pelas formas de ação política limitadas pela cruel realidade nos formuladores do novo acaba por gerar um movimento de transformação que se mata na reprodução do que condena enquanto fac-símile.

Sob este ponto de vista os movimentos que reorganizaram a forma-partido nos anos 1980 no PT (sim no PT) ainda são a mais moderna forma de organização partidária da história recente, que mesmo que tenha se transformado na burocratização  completa atual, e no PSOL em uma burocratização em menor escala, ainda são o que contém as sementes do entendimento de uma democracia popular e partidária ampla.

O próprio "deformado" PV, nasce como uma critica muito mais sustentada e contundente às organizações presentes à época e à forma-partido nos anos 1980 que os atuais "portadores do novo"

Ao não analisar a forma-partido e manterem-se representantes de uma novidade a partir do slogan os defensores do "novo" não sustentam uma critica de fôlego que os identifique concretamente com a "novidade" presente em seu discurso. 

Como o "novo" pretende se organizar?  Como a Comuna de Paris? Como o Partido bolchevique? Como o Fora do Eixo? Como os liberais-radicais do mundo europeu e anglo-saxão?

Todas as formas acima citadas tem precedentes mais antigos (Talvez com exceção da Comuna de Paris).

E a economia? A discussão sobre a superação das relações entre capital e trabalho se dão sob que ponto de vista econômico? Entendem e discutem a questão do paradigma econômico baseado na infinitude de recursos como fator a ser rediscutido em um quadro onde se entende que recursos naturais não são infinitos e que a ecologia não é mais apenas um discurso bacana e nossa sobrevivência depende disso? Como entender a questão dos direitos autorais em um quadro de reformulação da economia pelas novas tecnologias, novos meios de exploração da mais-valia e ampliação das horas de trabalho cotidiano? E os impactos dessa nova economia sob o ponto de vista do meio ambiente?

Todas essas discussões são feitas cotidianamente nos partidos de esquerda e de centro-esquerda como o  PT e PSOL, possuem quadros que pensam os problemas, que discutem e se posicionam e cuja produção é ignorada pelos partidários do "novo" em sua sanha de uma superação do concreto pela formulação de slogans. Até o PV com sua loucura por cargos que o mantém atrelado ao PSDB tem em seus quadros quem discuta o capital, a economia e suas novas-tecnologias.


Dizer que os partidos não discutem o compartilhamento de arquivos, por exemplo, é ignorar o trabalho do professor Sérgio Amadeu , próximo ao PT, e passar ao largo do que blogueiros e organizações discutem, com muito material on line, há anos.

A novidade que vem dar a praia com seu canto de sereia parece muitas vezes ser apenas a manifestação esquizofrênica da repulsa às formas-partidos tradicionais com uma critica difusa às ideologias e um fetiche da ferramenta que torna as novas tecnologias panaceias para uma realidade que teima em exigir respostas concretas e não slogans.

E a novidade, que seria um sonho, acaba virando o mesmo pesadelo de sempre, porque no cotidiano todo mundo faz tudo sempre igual.


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Pessoas, política, relações

A política é de certa forma a arte de manutenção de relações que conduzem ao poder ou que traduzem os conflitos decorrentes dessa busca. Estas relações podem ser de cunho conflituoso ou não, podem ser fruto de litígio ou não.  E mesmo nos conflitos não existe nenhum tipo de impedimento direto entre relações pessoais, a luta de classes não define o caráter das pessoas, não as torna vilãs ou heróis só pelo lado que tomam partido. Existem comunistas canalhas e bons burgueses.

A questão é que estas relações acabam por incorrer em profunda intimidade com o "inimigo", o burguês dono de indústria pode sim ser um cara legal, anti-homofóbico, anti-machista, anti-racista, ao mesmo tempo que o companheiro Comunista pode ser racista, homofóbico e machista. E isso, que se não é um problema em si, pode acabar sendo um sério elemento de conflito quando a "causa" nos levar a tomar atitudes que obviamente nos porão de lados opostos com a razão do afeto.

É ai que a porca torce o rabo.

Existem pontes pessoais dignas de serem feitas, mas que não cabem no plano ideológico e o impasse é um elemento a ser trabalhado pessoalmente e não pode ou deve ser levado à "causa" como um argumento a favor da superação de determinados impasses. Existem impasses que nos porão sim de lados opostos em relação inclusive a quem amamos e o teste do afeto ai não é brincadeira e nem pode ser considerado pequeno. A necessidade de uma opção não é bolinho, ela é precisa.

Claro que não se fala de abandonar os afetos, mas obviamente de entender que no campo político os afetos estão de lados contrários e que o afeto pessoal não é determinante na decisão ideológica, ou ao menos não deveria ser. 

Alguns tem amigos tucanos, verdes, petistas e que continuem a ter, mas o afeto não deve ai insinuar que a amizade pessoal é uma ponte entre campos ideológicos, porque quase nunca é e se for provavelmente o que mudou foi seu lado.

Afinidades de classe, regionais ou outras quaisquer, por vezes nos ligam e podem parecer que vão além e que superam questões ideológicas claras e ai por vezes nos vemos defendendo quem ataca de forma venal companheiros porque estes por acaso confrontam ideologicamente o foco de nosso afeto. Só que na hora do pau talvez a razão de nosso afeto acabe de alguma forma do lado de nosso inimigo.

O mundo não é justo, nunca foi, isso não quer dizer que aquele amigo, namorado ou irmão querido tucano ou verde tenha de ser nosso inimigo full time em todas as situações, mas convém manter um certo grau de olho aberto pra não confundirmos nosso afeto com nossa convicção e perceber a distância e a aproximação entre ideologia e afeto de forma bem clara, para evitarmos esperar que um Tucano nos ajuda a combater a morte de sem terra ou um Marinista de nos ajudar a combater sacanagens contra indígenas no Acre e nos decepcionarmos, porque, a gente sabe, na política o buraco é sempre mais embaixo.